Infarto Agudo do Miocárdio em pacientes com Covid 19

O Coronavírus é uma pandemia que tem afetado milhões de pessoas ao redor do mundo, sobrecarregando o sistema de saúde mundial como um todo. Desde os primeiros dados catalogados na China, a elevação da Troponina tem sido implicada com lesões miocárdicas e está intimamente associado ao aumento da mortalidade.

Uma grande proporção desses pacientes afetados com maior gravidade apresentam doença cardiovascular prévia ou fatores de riscos cardiovasculares. A injúria miocárdica em pacientes com COVID-19 pode se dever devido a ruptura de uma placa já existente, a tempestade de citocinas,  injúria por hipóxia(alta demanda metabólica e baixa reserva cardíaca) , espasmo coronariano, trombose ou lesão no próprio endotélio.

Estudos evidenciaram que os níveis de citocinas ,ou seja, o processo inflamatório foi mais evidente no sistema cardiovascular do que em outros sistemas do organismo.

O aumento de troponina é acompanhado de elevação de outros marcadores inflamatórios, como dímero-D, ferritina, interleucina-6 (IL-6), desidrogenase láctica (DHL), proteína C reativa, procalcitonina e contagem de leucócitos. Em estudo observacional na China, pesquisadores concluiram que os pacientes que evoluíram a óbito apresentaram níveis mais altos de dímero-D, IL-6, ferritina e DHL, além de linfopenia, sugerindo que marcadores inflamatórios aumentados podem indicar mau prognóstico. Além disso, se o dímero-D na admissão for maior que 1µg/ml se torna um preditor de maior mortalidade nesses doentes além de estarem correlacionados com maior incidência de arritmias ventriculares e maior necessidade de ventilação mecânica.

Em artigo publicado na revista Circulation em Junho de 2020, um estudo retrospectivo realizado na região da Lombardia, na Itália,  onde a pandemia teve sérios impactos evidenciou que frequentemente pacientes com Infarto com supra de ST não apresentavam obstruções arteriais ateroscleróticas.

Dos 28 pacientes incluídos na análise, apenas 60,7% tiveram uma lesão que justificasse o infarto do miocárdio, relatou o cardiologista Prof. Giulio Stefanini e colaboradores. Ainda segundo Stefanini e seu grupo, todos os pacientes que internaram com infarto deveriam ser testados para Covid 19. Nesse estudo, nenhum paciente recebeu tratamento fibrinolítico.

Por outro lado os pacientes que não apresentaram obstrução coronariana, não se foi capaz de determinar se esses pacientes apresentaram Infarto do Miocárdio tipo 2, se foi uma miocardite subsequente a infecção por Covid, se foi devido a uma disfunção endotelial ou a própria tempestade de citocina.

O que podemos concluir até o presente momento é que aproximadamente 40% dos pacientes com Covid- 19 que evoluem com infarto, as artérias coronárias não apresentam lesão culpada.

Precisamos de futuras investigações para saber a real fisiopatologia da injúria miocárdica nesses pacientes.

Portanto durante a pandemia todo paciente que chega ao Pronto Socorro com Infarto do Miocárdio deve ser testado para Covid-19 e desses pacientes positivos ,40% podem apresentar Infarto com angiografia normal.

O tratamento do infarto deve seguir as diretrizes atuais adicionadas aos cuidados humanos e estruturais além do teste para confirmar a infecção viral Covid-19.

 

Eliane Aboud – CREMESP 60.075
Cardiologista e Conselheira do Cremesp
Membro da Câmara Técnica de Cardiologia do Cremesp