Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo encontra irregularidades no Hospital de Campanha do Anhembi

No último dia 21 de maio, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) esteve no Hospital de Campanha Anhembi (IABAS) para uma fiscalização das condições de funcionamento e identificou uma série de irregularidades, que comprometem o trabalho dos profissionais da saúde que atuam no local e colocam em risco a vida dos pacientes encaminhados para a unidade em questão.

O Hospital de Campanha Anhembi IABAS tem capacidade total para 1412 leitos sendo que se encontravam efetivamente em operação 512 leitos na data da vistoria, quando verificou-se que a unidade estava com 47,4% de sua capacidade ocupada, sendo 49,5% dos leitos de enfermaria e 27,1% dos leitos de estabilização (aguardando transferência para UTI). Neste dia, o Hospital de Campanha do Anhembi – IABAS tinha, até então, registrado 10 óbitos.

Entre as não conformidades encontradas estão:

Áreas com alto risco de contaminação
– ambiente de internação não climatizado, sob ação da temperatura ambiente externa;
– locais para alimentação, vestiário e repouso médico estão localizados dentro de áreas
contaminadas, colocando em risco os profissionais que utilizam esses locais.

Área de estabilização não está bem equipada
– foram projetados 48 leitos para estabilizar pacientes mais graves, em espera para serem transferidos para UTI, porém, no local, foram identificados apenas 17 ventiladores para atender todo o hospital, contrariando as normas para leitos de estabilização;
– não foi constatada a disponibilidade de um monitor e uma bomba de infusão para cada leito, também necessários para atender casos mais graves;
– não há um carrinho para atendimento a casos de parada cardíaca para cada posto de
enfermagem.

Desrespeito a protocolos e normas técnicas
– um tomógrafo funciona 24h por dia, sem limpeza do aparelho entre um paciente e outro, conforme informado pelos técnicos que operam o equipamento. O chão e as paredes da área de tomografia também não são limpos entre uma utilização e outra, contrariando as normas da ANVISA e oferecendo riscos de contaminação de casos confirmados para suspeitos;
– Os testes PCR e teste rápido não são suficientes para atender a demanda, de acordo com profissionais ouvidos pelo Cremesp;
– também de acordo com funcionários ouvidos pelo Conselho, por conta da dificuldade em obter os resultados dos testes coletados, muitas vezes, pacientes recebem alta sem o resultado do exame;
– a limitação dos testes e da obtenção dos resultados, de acordo com os médicos ouvidos, também dificulta o isolamento correto dos pacientes internados, entre suspeitos e confirmados para Covid-19;
– não foi possível verificar uma divisão entre funcionários por áreas, pois todos circulavam com os mesmos aventais favorecendo a contaminação cruzada;
– falta de Protocolo de Classificação de Risco do Paciente, medida que determina o tempo que um paciente pode ou não esperar para ser atendido;
– não foram encontradas evidências de registro no endereço eletrônico das internações de pacientes suspeitos ou confirmados, além do número de alta de pacientes e quantidade de leitos;
– mesmo sendo proibido, evidenciou-se a presença de um acompanhante dentro da sala de admissão, com máscara de pano e roupa comum;
– não foi relatado plano de contingência, em caso de incêndio, nem treinamento de brigadas e alvará do corpo de bombeiros.

EPI e equipamentos médicos
– funcionários do hospital usavam a mesma máscara N95 por 15 dias (contrariando às normas de uso, em que o máximo de tempo de uso permitido para este tipo de máscara são 7 dias) e levando-as para suas residências, o que contraria o protocolo do Ministério da Saúde;
– leitos de enfermaria não têm todos os equipamentos individuais necessários, como
oxímetros, ficando os equipamentos existentes em circulação para o atendimento aos
pacientes. Durante a vistoria não ficou claro como é realizada a higienização destes
equipamentos entre um atendimento e outro;
– equipe de atendimento sem a troca correta dos EPIs, para deslocamento entre áreas,
possibilitando a transmissão de pacientes confirmados para suspeitos, por meio dos
profissionais.

Sindicâncias
Diante do resultado desta fiscalização, o Cremesp abriu sindicância para apurar a
responsabilidade dos médicos responsáveis e, dada a urgência das providências necessárias, comunicou a Secretaria Municipal de Saúde e enviou ofício ao Ministério Público e à Anvisa.

Ainda durante esta fiscalização foi constatado que funcionários que prestam serviço de
ambulância estavam usando a mesma máscara N95 há mais de um mês e não tinham EPI adequados para transportar pacientes. As empresas responsáveis pelas ambulâncias e os funcionários identificados em tais condições também estão sendo investigadas pelo Conselho, por meio de sindicância.

Para Irene Abramovich, médica e presidente do Cremesp, o que foi verificado nesta
fiscalização é um hospital subequipado e em condições precárias de atendimento, pois existe orientação e protocolos acessíveis e bem claros a fim de garantir o atendimento seguro à população e médicos.

“Ignorar as diretrizes de atendimento para unidades de saúde, principalmente no combate à pandemia de Covid-19, é muita irresponsabilidade e não contribui em nada para controlar a situação”, comenta.

O Conselho tem realizado fiscalizações por todo o Estado e criou canais exclusivos, para
receber denúncias e orientar médicos e profissionais de saúde, em relação à pandemia de Covid-19: 11 98286-3722 (whatsapp) e covid-19@cremesp.org.br (email). Além disso, desde o início da pandemia em São Paulo, o Cremesp tem promovido conteúdos técnicos online, disponíveis em seu canal no YouTube e mantém ainda o hotsite covid-19.cremesp.org.br, sempre atualizado com conteúdo e orientações aos médicos profissionais da saúde, sobre a Covid-19.