Live no Cremesp aborda imunizantes contra a covid-19 em desenvolvimento

Qual é o estágio de desenvolvimento dos imunizantes em teste no Brasil contra o SARS-CoV-2? Há dados preliminares sobre eficácia e segurança? Para quando se espera a aprovação ao uso em massa dos produtos avaliados? Estes e outros assuntos estiveram no foco do evento on line “Vacinas em Desenvolvimento para a covid-19”, realizado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) no dia 17 de novembro, com transmissão ao vivo pelas redes sociais da Casa e participação da plateia, com perguntas.

Mediado pelos conselheiros Edoardo Filippo de Queiroz Vattimo, diretor de Comunicação da Casa, e Maria Camila Lunardi, o evento contou com a presença de representantes de três produtos em teste em fase 3 (que avalia eficácia e segurança em um número significativo de participantes) no Brasil. Sobre a vacina dos laboratórios Pfizer/BioNTech falou Cristiano de Freitas Zerbini, coordenador do estudo do imunizante no país; pela vacina inglesa da Universidade de Oxford/AstraZeneca esteve presente Lily Yin Weckx, investigadora principal desta pesquisa apoiada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM). A vacina chinesa CoronaVac, do laboratório Sinovac, foi abordada pelo médico Ricardo Palacios Gomez, diretor de pesquisa clínica do Instituto Butantan.

Além de estarem na mesma fase de testes no Brasil, os imunizantes têm em comum fatos como apresentarem reações de leve intensidade após a aplicação – como vermelhidão local e dor muscular, além de sistêmicas em alguns pacientes – como calafrios e febre; demandarem duas doses para proteção mais efetiva, e de não terem data definida para a liberação ao público em geral. Como a covid-19 não apresenta precedentes, os imunizantes são desenvolvidos “em oito, nove meses, fazendo com que etapas 1, 2 e 3 de estudos sejam realizadas simultaneamente, em centros diferentes”, informa Zerbini. “Existe tanta confiança de que tudo vai dar certo que as indústrias já estão produzindo as vacinas. Se não der, será um grande prejuízo”, explica.

A velocidade com que os imunizantes estão sendo produzidos, no entanto, não implica em falta de rigor científico ou de dados em relação à infecção. Conforme Lily Yin, o conhecimento adquirido de outras pandemias e as semelhanças genéticas entre os coronavírus SARS-CoVe SARS-CoV-2 adiantaram os processos. “Uma vacina já estava sendo elaborada contra MERS-CoV (agente causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio) e a plataforma acabou sendo direcionada para deter a covid-19”.

Desafios
Particularidades em relação aos coronavírus tornam a disponibilização da vacina um desafio em saúde pública: um deles é dar cobertura, em duas doses, à maior parte da população – inclusive, aos que já tiveram covid-19, já que não é possível testar a todos, antes de vacinar. Outros envolvem a falta de evidências sobre o tempo de proteção conferido após a infecção, e quanto à chamada “imunidade de rebanho”. “Efeitos indiretos relativos à aplicação do imunizante e depois da infecção são ilusões, bem como o é a erradicação da doença. Isso não aconteceu com nenhum coronavírus”, destacou Gomez.

Casos de reinfecção, segundo ele, tornam concreta a ideia da perda da resposta imune induzida por anticorpos neutralizantes, com o passar do tempo. “Não escutei de ninguém que a infecção confere mais de um ano de proteção natural”, diz Gomez.

Diferenças entre as vacinas
A vacina de Oxford pertence a uma classe chamada “vacina vetorial”. Neste caso, utiliza um adenovírus símio, modificado em laboratório para apresentar o antígeno do SARS-CoV-2, a proteína Spike, “que induz à produção de anticorpos neutralizantes”, fala Lily. Tal adenovírus fica restrito ao local da aplicação da vacina intramuscular, não se disseminando para outras regiões do corpo, uma vez que é modificado para perder sua habilidade de se replicar.

A CoronaVac emprega tecnologia bastante tradicional: é uma versão inativada do vírus modificada em laboratório, de modo a não ser capaz de se reproduzir e causar a doença. Uma vez aplicada, o sistema imunológico fica preparado para eliminar o agente invasor.

A proposta da Pfizer é uma vacina gênica, que utiliza parte do código genético viral, com vistas a estimular a produção da proteína do vírus que, quando liberada na corrente sanguínea, alerta o sistema imune contra o Sars-CoV-2.

A íntegra da live Vacinas em Desenvolvimento para a Covid-19 pode ser conferida no Facebook e YouTube do Cremesp.