Cremesp abre investigação após médica relacionar soro de imunidade ao coronavírus
Em vídeo, médica de Ribeirão Preto mostra gestantes tomando soro intravenoso e afirma ‘ficar imune do corona’. Não há evidência científica de que infusão previne Covid-19, diz Associação.
O Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremesp) informou nesta segunda-feira (16) que vai abrir investigação após uma médica de Ribeirão Preto (SP) relacionar um soro endovenoso ao novo coronavírus (Covid-19).
Um vídeo gravado por Isabella Abdalla, que possui pós-graduação em nutrologia, mostra gestantes recebendo o soro de imunidade e ela dizendo, em seguida, ‘ficar imune do corona’. O produto ao qual a médica se refere tem vitaminas e substâncias antioxidantes.
“Gente, essa turma minha de gestante está uma mais maravilhosa que a outra. Todo mundo tomando soro para imunidade, ‘né’? Ficar imune do corona”, afirma a médica.
A sindicância do Cremesp vai correr em sigilo. O órgão informou também que todo e qualquer ato médico deve ser pautado pelo Código de Ética Médica e os profissionais devem estar atentos aos limites da publicidade impostos pelo Conselho Federal de Medicina.
Segundo a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), em 2015, Isabella cursou pós-graduação na especialidade, mas não fez prova de título para atuar como nutróloga. O advogado dela informou que a médica é clínica geral.
O caso ganhou repercussão negativa nas redes sociais durante o fim de semana.
Em outro vídeo, Isabella afirma que as pessoas “estão desesperadas” com a Covid-19 e que os pacientes dela estão procurando muito o soro para imunidade. No fim da gravação, diz que vai oferecer o produto também para quem não é paciente.
“Galera, o pessoal está desesperado por conta do coronavírus. Meus pacientes estão vindo bastante fazer o soro para imunidade. Eu aconselho fazer porque é um soro que a absorção é 100% dos nutrientes, eu coloco doses altas de vitaminas para imunidade e antioxidantes. Então vale muito a pena fazer e realmente eu estava pensando nisso, estou tendo muita pergunta no Instagram, de abrir esse soro para todo mundo, para que não é paciente, e eu acho que é legal”.
Por telefone, o advogado da médica disse que ela não teve intenção de promover qualquer informação relacionada à vacina do coronavírus com a aplicação do soro.
“O mundo inteiro está procurando isso [vacina] e até agora ninguém achou. Ela não teria o atrevimento de falar uma coisa dessas. O que ela falou é que nessas situações em que nós nos encontramos é muito importante que o cidadão mantenha o sistema imunológico fortalecido e que um dos fatores para fortalecer o sistema imunológico é tomar vitamina”, diz Abrahão Issa Neto.
O advogado afirmou que ainda não tem conhecimento sobre a apuração anunciada pelo Cremesp.
Isabella Abdalla é nutróloga e atua em Ribeirão Preto — Foto: Reprodução/Instagram
Vídeo de ‘esclarecimento’
A médica foi criticada e suspendeu as contas nas redes sociais. No fim da noite de domingo (15), ela reativou o perfil no Instagram e postou um vídeo de esclarecimento.
Isabella afirma, na gravação, que nunca disse que o soro de imunidade poderia curar, prevenir ou tratar o coronavírus. Diz, ainda, que corrobora com a nota divulgada pela Associação Brasileira de Nutrologia de que não há evidência científica do tratamento.
“Em momento algum do vídeo, vocês podem ver no vídeo, eu citei a palavra que o soro poderia curar, poderia prevenir ou poderia tratar o coronavírus. O soro ele nada mais é que um conjunto de vitaminas e antioxidantes que pode melhorar o seu sistema imunológico”.
Médica de Ribeirão Preto (SP) Isabella Abdalla publicou vídeo para se posicionar sobre o caso — Foto: Reprodução/Instagram
“Então é através de uma melhora do sistema imune que você tenha mais saúde para poder, às vezes, combater melhor qualquer tipo de coisa. O intuito que eu quis dizer no vídeo foi esse. Então hoje a Associação Brasileira de Nutrologia soltou uma nota divulgando que não existe evidência científica na soroterapia ou medicação endovenosa contra o coronavírus e eu assino embaixo”.
Sem evidência científica
Após a repercussão, a Abran emitiu comunicado para informar que não faz parte de protocolos da nutrologia o uso de soroterapia endovenosa para prevenção de doenças infectocontagiosas.
“Não há nenhuma evidência científica de que a infusão de soros, com qualquer dose de vitaminas, minerais, aminoácidos, antioxidantes ou outros nutrientes, tenha efeito preventivo contra o novo Coronavírus”.
Nota completa do Cremesp
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) informa que abrirá sindicância para investigar o caso. A sindicância tramitará sob sigilo determinado por lei.
Um alerta que o Cremesp faz à população é que sempre desconfie de anúncios sensacionalistas e promessas de resultado fácil. A internet e o acesso rápido e amplo a informações permitiram a difusão de conteúdo de qualidade em saúde, por meio de páginas e influenciadores sérios, incluindo respeitadas instituições de saúde. Mas também permitiram a disseminação de falsas informações, as chamadas fake news, que colocam em risco a saúde da população.
Além disso, o médico deve sempre se pautar pelas evidências científicas e expô-las ao paciente.
O Conselho esclarece ainda que todo e qualquer ato médico deve ser pautado pelo Código de Ética Médica e o profissional médico deve estar atento aos limites da publicidade, cujas orientações podem ser encontradas nas Resoluções 1974/11 e 2126/15 do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Fonte: www. g1.globo.com